Algumas noites atrás nós brigamos por bobagem, fomos deitar sem se falar direito, uma mesma cama para duas pessoas que estavam tão distantes. Demorei para pegar no sono, fiquei revirando aquele sentimento ruim, pensando sobre como ela estava errada. No meio da noite acordei e ela não estava ao meu lado, fui até a sala e lá estava, sozinha, em meio a escuridão sentada em um sofá que por tantas vezes abrigou momentos felizes nossos. Voltei para a cama sem falar nada, uma sensação horrível me invadiu e eu me questionei: De novo isso? Lembra quando você tinha 17 anos e viu a mesma coisa ocorrer com sua namorada na época? Me doeu pensar isso, afinal eu não tenho mais 17 anos, eu agora já era um homem, eu não era mais aquele garoto… ou ao menos eu não deveria ser mais aquele garoto.
Fui até a sala e sentei no sofá ao lado dela, tudo era silêncio até eu começar a falar.
– Eu já passei por isso, já vivi essa cena e cometi o erro de não fazer o que estou fazendo agora. Quero te pedir desculpa, desculpa por eu agir como um garoto, desculpa por eu colocar o ‘quem está certo’ acima de te tentar acertar as coisas e te ver bem. Quem gosta mesmo não faz isso, quem gosta mesmo não deixa o outro passar à noite em claro remoendo coisas ruins. Eu vim aqui pra te dizer que quando você voltar para a cama estarei te esperando, eu não vou ficar distante, eu vou te abraçar, eu vou tentar te fazer rir e vou te pedir para que a gente nunca mais deixe o silêncio criar essa distância entre nós, porque essa pequena distância irá se tornar um abismo, um abismo que vai destruir eu e você por dentro. Quando você estiver pronta venha para a cama, eu vou estar te esperando, porque eu não sou mais um garoto e você se tornou uma incrível mulher. Nós podemos resolver isso, nós podemos provar nesses momentos ruins que finalmente nós chegamos numa maturidade e hoje somos dois adultos que se gostam e lutam de verdade para resolver os problemas.
Ela ficou em silêncio. Quando eu levantei ela tocou minha mão e com uma voz de quem tinha chorado disse calmamente:
– Já vou lá amor.
Quando ela veio deitar comigo éramos como duas pessoas totalmente diferentes daquelas que estavam guardando mágoas. Sentíamos ali que havíamos mudado, eu e ela não éramos mais aquele garoto e aquela menina que deixaram outros relacionamentos estragarem por palavras não ditas. Nós estávamos unidos apesar das diferenças, estávamos tentando de verdade, sem querer ser mais que o outro ou jogar a culpa no outro.
Dormimos e acordamos juntos, não deixamos que nossa cama se tornasse um abismo. E pela primeira vez eu tive a sensação de que eu finalmente havia mudado, eu era mais do que promessas e momentos felizes. Eu agora entendia que quando gostamos a gente se esforça e não há silêncio algum que possa ser mais forte do que a vontade de ver o outro bem.
Porque quando a gente gosta a dor do outro é também a nossa. A gente não acerta sempre, brigas vão acontecer, mas se não nos esforçarmos por quem nos quer bem então qual seria o sentido de deitar e acordar ao lado desse alguém?
Felipe Sandrin
Todo Comportamento Reflete uma Condição: Saber Distinguir Pode Oferecer Soluções para a Remodelação Pessoal A…
Exposição de Crianças Superdotadas nas redes sociais é excessivamente superior no Brasil do que em…
Halloween: Como o nosso cérebro interpreta o medo? Os sustos e o medo são processos…
Dia do Professor: Profissional que criou método inovador explica o que deve ser transformado na…
Baixa motivação diurna: como metas diárias podem ser a chave para regular o humor e…
A Complexa Relação entre Psicopatia e Inteligência: Reflexões a partir da Neurociência e da Ficção…