Por mais que quiséssemos, não se revive um dia, uma vida, porque não somos viajantes do tempo. Vive-se plenamente, uma única vez. Cada atitude que tomamos é reflexo do que somos, sentimos, e elas fazem parte de nós. Se nos arrependemos constantemente de nossas atitudes, então temos que mudar a nós mesmos e não como as coisas aconteceram.

Se “Time About” (Questão de tempo) fosse uma comédia romântica convencional, teria terminado aos 38 minutos. Quando o casal apaixonado, finalmente, fica junto.

O autor Richard Curtis, conseguiu fazer do roteiro uma obra de arte, a ponto de nos sentirmos parte do filme, as emoções dos personagens se transformando em nossas e constantemente a trama dialogando conosco através das questões existenciais que ficam subentendidas. A parte da comédia não se trata de gargalhadas, mais sim de sorrisos tímidos e sinceros que nos acompanham durante boa parte do tempo. A trilha sonora também merece destaque, encaixando perfeitamente de clássicos a hits do momento.

A produção britânica também surpreende ao fazer um filme de quase duas horas passar em um piscar de olhos. Por ser atípica nos deixa sem os parâmetros comuns para saber o que vai acontecer na cena seguinte, isso faz com que passemos o tempo todo na expectativa de como cada novo fato vai se resolver.

Tim, interpretado por Domhnall Gleeson, é um cara que aos 21 anos descobre que os homens de sua família podem viajar no tempo. E antes mesmo de digerir a nova realidade, seu pai (Bill Nighy) questiona o que ele deseja conquistar com a mais nova habilidade.

O segundo que Tim tem para refletir é o mesmo segundo em que nos perguntamos: E se eu pudesse voltar no tempo? O que faria diferente? O que conquistaria? O simples ato de imaginar como seria a vida com tal poder, deixa impresso em nós um sentimento positivo, misturado ao alívio. Se isso fosse possível, em um segundo, todas as nossas frustrações, medos e arrependimentos teriam se esvaído. Só restando nossos momentos de êxito. Mas, então, quem estaria ao seu lado? Quais seriam os seus problemas? De fato quão melhor a vida seria? Resposta difícil!

A propósito, ao ser questionado pelo pai, Tim escolheu o amor. E apesar da tentativa de usar o poder em seu benefício, para encontrar o amor de sua vida, na maioria das vezes que voltou no tempo foi para melhorar a vidas dos outros. Tim, de certa forma, é uma utopia do que desejamos que os outros sejam, mas não nos esforçamos em ser.

Queremos amor incondicional, estar em primeiro lugar na vida das pessoas, sentimentos que precisam de reciprocidade. Se não fazemos isso pelas pessoas como podemos almejá-los? E é assim que Tim age com os seus, porque apesar dele poder escolher qualquer dia de seu passado, mudar sua família e amigos, todos os dias ele escolhe a mesma coisa, sem hesitar: o amor sem limites por aqueles que estão à sua volta.

Hoje vivemos a era do individualismo, da super-rapidez, onde tudo é para ontem. Ou as coisas são ou não são. Eu quero e é agora, se não for assim eu descarto e fim. Simples e fácil. Mas somos humanos e passíveis de erros, é nesse brecha que pode surgir o arrependimento acrescido de um: Se eu pudesse voltar atrás e ajeitar tudo?

Apesar de importante, o fator viagem no tempo não é o foco do filme, e torna-se algo secundário no desenrolar da história. Tim conhece o amor de sua vida Mary (Rachel McAdams) e sem muitos impedimentos logo o casal fica junto, e a partir daí a trama assume forma de um drama. Os outros personagens têm papel fundamental, principalmente na parte mais dramática, e cada um vai ganhando destaque no decorrer da história. A irmã de Tim, Kit Kat (Lydia Wilson), é problemática, e mais à frente o pai de Tim descobre que tem uma doença em fase terminal. Tal quebra-cabeça de personalidades desencadeia situações que Tim e Mary só poderiam enfrentar com cumplicidade, amor e confiança.

Características que nos fazem pensar nos dois como o casal perfeito.

Em meio ao drama, o romance e a comédia, Mary nos encanta a cada segundo, com sua personalidade nada clichê. Do tipo que topa casar-se em casa, em um dia chuvoso e confessa ao marido que não mudaria absolutamente nada, naquele dia. Fazendo dela alguém que nunca desejou voltar no tempo, porque vive cada dia como se fosse o último, fazendo dos dias o mais perfeito que poderiam ser.

Tim representa o que queremos ter, o poder de voltar ao passado e realinhar tudo o que deixamos bagunçado, inacabado. Mary é o que de fato podemos ser, alguém que não precisa voltar, alguém que não passa por um dia simplesmente, que o vive intensamente desfrutando de cada mísero detalhe.

Questão de Tempo nos faz repensar e compreender que não seríamos mais felizes se pudéssemos mudar o passado. Por mais que quiséssemos não se revive um dia, uma vida, porque não somos viajantes do tempo . Vive-se plenamente, uma única vez. Cada atitude que tomamos é reflexo do que somos, sentimos, e elas fazem parte de nós. Se nos arrependemos constantemente de nossas atitudes, então temos que mudar a nós mesmos e não como as coisas aconteceram.

Ainda estamos ao alcance de despertar a Mary que vive em nós, só precisamos ser sábios e viver cada dia como se fosse o último de nossa existência. Viva se perguntando: Eu quero fazer isso, mas se fosse meu último dia eu faria o mesmo? Se a resposta for sim, então você estará fazendo a coisa certa. A partir daí o céu nublado se tornará mais iluminado, a discussão será precedente para o carinho, a indiferença sinal verde para o amor. Enfim, não haverá motivos para você voltar a um passado que foi feliz, mas não tão feliz e perfeito quanto o presente.








Paranaense por regra, mas com a impressão que pertence ao mundo inteiro. Ariana ao pé da letra, gosta de questionar o senso comum e fazer de cada resposta uma nova pergunta! Dona de uma mente inquieta, está sempre à procura de novos lugares, novas aventuras, novas histórias... É bacharel em Gestão Ambiental, estudante de Administração e filósofa de bar.