” Quando somos capazes de reconhecer e perdoar os atos de ignorância cometidos no passado, nós nos fortificamos e colocamos à altura de resolver de maneira construtiva os problemas do presente.” – Dalai Lama
Saber perdoar a nós próprios e a quem nos fez mal pode não ser fácil. Mas é um acto necessário para nos libertarmos de rancores, evitar doenças e seguir com a vida em frente. E por que é tão difícil perdoar? Muitos confundem o perdão com a aceitação de uma injustiça. Mas perdoar não é ser condescendente. Não é, por exemplo, deixar livre um criminoso, que precisa de ser responsabilizado pelos seus actos. Perdoar é conseguir libertar-se do seu sentimento de mágoa para com o outro ou relativamente a si próprio. Em algumas alturas da nossa vida deparamo-nos com situações que nos ofendem e magoam, em maior ou menor escala, e, portanto, esta capacidade de perdoar é sempre necessária. E porquê? Quais são as razões para, efectivamente, perdoar?
Passo a apresentar algumas razões que nos levam a acreditar que é necessário perdoar:
O ressentimento desgasta-nos física e emocionalmente. O ressentimento, para além de ser cansativo, é um sentimento que leva à depressão, ansiedade ou ataques de pânico, alterações no sistema imunitário, dificuldades cardíacas e outros problemas físicos relacionados com o nível de stress do nosso organismo. Diz-se que “o ressentimento é como a própria pessoa tomar veneno e esperar que a outra pessoa morra”. Comparando com a raiva, esta é como uma intoxicação alimentar que pode ser muito intensa, mas termina rapidamente. Relativamente à raiva, podemos reconhecê-la, expressá-la e, finalmente, deixá-la ir. Já dizia o escritor inglês Edward G. Bulwer-Lytton (séc. XIX) que “a raiva ventilada muitas vezes encaminha-se para o perdão; a raiva escondida muitas vezes endurece em vingança”.
Seguir em frente com a nossa vida. “Perdoar significa deixar ir o passado” (Gerald Jampolsky). Sabemos que, muitas vezes, não é assim tão fácil a pessoa libertar-se do passado. E pode haver, de forma inconsciente, uma compulsão repetitiva de voltar a um evento traumático ou a determinado padrão de comportamento. Por exemplo, se foi magoado por um parceiro romântico no passado e a questão não foi “resolvida” internamente, é muito provável que volte a escolher inconscientemente um parceiro com características idênticas, para poder “resolver” a situação. Neste sentido, perdoar o que aconteceu será a melhor forma de seguir numa direcção positiva e ultrapassar a situação.
Deixar de ser controlado pelo comportamento de outra pessoa. “Ficar agarrado ao ressentimento é deixar alguém que despreza viver sem pagar renda na sua cabeça”. É importante perceber que, de uma certa maneira, a pessoa que não perdoa continua ligada ao seu objecto de ressentimento, pois na sua cabeça continua a reviver a situação. Ao perdoar pode libertar-se dessa ligação penosa e viver livremente.
Sentir-se poderoso! “Os fracos não conseguem perdoar. O perdão é o atributo dos fortes” (Gandhi). Aceitar e estar em paz com uma situação que ocorreu e nos magoou, e saber que podemos não ficar presos a ela, dá-nos poder e controlo. Perdoar mostra-nos que estamos a assumir responsabilidade pela nossa felicidade, em vez de deixar que as acções dos outros determinem o nosso estado de espírito. Assumimos assim o papel de herói em vez do de vítima.
Voltar a ter a capacidade de amar. “Aquele que é desprovido da capacidade de perdoar é desprovido da capacidade de amar. Há algo de bom nos piores de nós e algo de mau nos melhores de nós. Quando descobrimos isso, somos menos propensos a odiar os nossos inimigos” (Martin Luther King). Quando temos esta capacidade de perdoar, quando assumimos esta decisão de perdoar, em vez de ficarmos imersos na dor e no ressentimento, estamos com certeza a caminhar no sentido de voltar a amar e de encontrar esse amor dentro de nós e para com os outros.