Não é difícil encontrar por aí amores que se dizem intensos, imensuráveis e até infinitos. Mas é desnorteante notar a frequência com que esses mesmos amores tropeçam na incrível dificuldade de serem dóceis,de serem sutis, de serem, enfim, harmônicos.
Harmonia pode não ser o mais conhecido dos estados de um sentimento, mas é com certeza o mais sutil, o mais profundo e talvez o mais essencial. Harmonia é o respeito trajado de carinho.
É harmonia a barra de chocolate divida no cinema, o copo de sorvete divido no fim de tarde.
É harmonia a carícia na mão suada do outro enquanto ele aguarda a resposta daquele teste.
É harmonia a conversa afetuosa ao celular, a brincadeira carinhosa, o humor fácil que se conquista pela intimidade.
É harmonia quando se está distante pensando igual. É a conversa fácil, o escutar atento e o falar suave.
É harmonia entender a preocupação, a piada, o alerta, a explicação, sem que uma só palavra seja dita.
É harmonia dividir a pia de louças e fazer guerra de espuma.
É harmonia deitarem-se juntos no silêncio do quarto e entreolharem-se, sem pretensão, sem malícia, apenas por admiração. Carícias na nuca. Beijo na testa. Abraço aconchegante. Mordiscada na orelha. Olhares fixos.
É harmonia correr juntos pra fugir da chuva e perceber que chegaram ensopados ao destino. É esquecer-se de avisar que o GPS havia mandado virar naquela esquerda que passou e ouvir o outro dizer “não se preocupe, ele recalcula!”. É dizer ao outro pra virar à esquerda, mas por um descuido ir pra direita, e os dois caírem na gargalhada.
É harmonia mandar mensagem no meio da madrugada apenas pra dizer: estava sonhando com você. Harmonia, afinal, são aquelas vivências que parecem bobas, as vezes rápidas, mas que carregam a profundidade necessária pra se tornarem memórias permanentes. São detalhes que fazem as “pequeninices” da vida tornarem-se acontecimentos de “frio na barriga”.
Por mais intenso que seja um “gostar”, sem harmonia não há brilhantismo, nem encanto, tão pouco constância.
Porque pra todos e pra cada um, sempre chega um tempo de crise. Aquele momento em que a vida se desestabiliza por causa de circunstâncias inesperadamente desconcertantes.
E nesses tempos, em que ficamos por um triz, quem, sinceramente, nos vem em mente como porto seguro para as nossas inseguranças é exatamente aquela pessoa que dividiu os detalhes mais simples e profundos conosco. Que esteve, harmonicamente, ao nosso lado quando não estávamos em condições de oferecer o prazer imediato que costumeiramente se busca como retorno de uma relação.
Em um relacionamento construído com harmonia, ocorrerá que na confusão difusa dos tempos sombrios, bastará um simples “estou aqui do seu lado” para que o mundo volte a fazer algum sentido.Porque é na harmonia que reside as lembranças mais prazerosas, o companheirismo mais reconfortante e os gestos mais gentis. Detalhes que duram a eternidade.
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