Quantas vezes não gastamos muito mais tempo e energia para preparar um jantar caprichado para um parente que se acha e servimos qualquer coisa para aquele outro que demonstra ser uma pessoa simples, sem frescura? Quantas vezes não cedemos o melhor quarto da casa para uma visita pedante, cheia de não me toques e oferecemos um colchão jogado no meio da sala para uma outra visita que demonstra afeto verdadeiro por nós? Parece que as pessoas gostam de ficar paparicando quem lhes despreza.

Sempre defendi a importância da gentileza. É horrível conviver com gente rude ou pior ainda: gente que sem dizer nada, deixa bem claro que se sente superior. Infelizmente, muitas pessoas ainda não descobriram o poder da empatia. Não perceberam o quanto é gostoso e divertido entrar numa sintonia fina com as pessoas.

Por outro lado, me parece que algumas pessoas abusam na dose de gentileza e acabam sendo confundidas com gente fraca, sem personalidade, gente que não merece a cortesia e a consideração alheia. Conhecem aquele velho ditado popular: “Quanto mais a gente abaixa, mais a bunda aparece?” Sim, concordo com este ditado. Descobri o quanto ele é verdadeiro na prática.

Em salões de beleza e em clínicas estéticas, sempre as clientes de nariz em pé são atendidas em primeiro lugar. As educadas e gentis, muitas vezes, precisam enfrentar atrasos por parte das profissionais. Como se diz…”Ela é boazinha. Não vai se importar de esperar”.

Filhos de temperamento mais light costumam também levar a pior nas barganhas familiares em relação aos irmãos mais geniosos. Os alunos costumam dedicar mais tempo de estudo aos professores carrascos porque sentem medo de serem reprovados.

Até mesmo as arrumadeiras e cozinheiras demonstram mais orgulho por trabalharem para mulheres esnobes, que mal olham na cara delas.

Nas relações afetivas acontece o mesmo. O mais gentil, o mais compreensivo, o mais atencioso, aquele que demonstra mais amizade, nem sempre é prioridade. Parece que as pessoas gostam de ficar paparicando quem lhes despreza.

Quantas vezes não gastamos muito mais tempo e energia para preparar um jantar caprichado para um parente que se acha e servimos qualquer coisa para aquele outro que demonstra ser uma pessoa simples, sem frescura? Quantas vezes não cedemos o melhor quarto da casa para uma visita pedante, cheia de não me toques e oferecemos um colchão jogado no meio da sala para uma outra visita que demonstra afeto verdadeiro por nós?

Parece que cada vez mais a sociedade privilegia o tipo não empático. Egoicos e arrogantes costumam levar a melhor quase sempre. Mas tudo bem. Nem por isso vamos deixar de ser gentis, não é? Gentis, não bobos.








Viciada em café, chocolate, vinho barato, filmes bizarros e pessoas profundas. Escritora compulsiva, atriz por vício, professora com alma de estudante. O mundo é o meu palco e minha sala de aula , meu laboratório maluco. Degusto novos conhecimentos e degluto vinhos que me deixam insuportavelmente lúcida. Apaixonada por artes em geral, filosofia , psicanálise e tudo que faz a pele da alma se rasgar. Doutora em Comunicação e Semiótica e autora de 7 livros. Entre eles estão "Como fazer uma tese?" ( Editora Avercamp) , "O cinema da paixão: Cultura espanhola nas telas" e "Sociologia da Educação" ( Editora LTC) indicado ao prêmio Jabuti 2013. Sou alguém que realmente odeia móveis fixos.