O relacionamento que vai mal, o chefe que faz a maior pressão no trabalho e aquele problema que você tenta resolver há meses te tiram o sono? Que tal desabafar?
Muita gente fica remoendo a mágoa e prefere reprimir a dor por medo de expor os sentimentos ou por não conseguir colocar para fora toda a angústia que está ali martelando sem parar e acaba não percebendo que estocar mágoas e sofrimentos faz mal para a saúde e para o coração.
“Nosso organismo não foi feito para guardar mágoas e sentimentos ruins. Tanto o corpo quanto a mente vão pesando na medida em que eles se acumulam e uma hora a panela de pressão transborda na tentativa de aliviar o sofrimento. É um processo natural”, explica a psicóloga e coordenadora do Setor de Gerenciamento de Qualidade de Vida da Unifesp, Denise Diniz.
“O grande problema é que na hora da explosão, a pessoa se sente tão sufocada que sai atirando para todos os lados magoando as pessoas que estão ao seu redor sem perceber. É preciso tempo e paciência para aprender a lidar com os sentimentos sem ferir as pessoas e nem a si mesmo”, continua.
Estocar mágoas e sofrimentos faz mal para a saúde e para o coração.
Quem cala consente a dor. Os sentimentos ruins são frutos de expectativas frustradas. Colocamos no outro ou naquela oportunidade a responsabilidade de resolver nossos problemas como se eles não fossem consequências dos nossos próprios atos, daí a mágoa e o ressentimento.
Na medida em que não extravasamos este sentimento e vamos dando a ele uma conotação negativa maior do que de fato ele deveria ter, sufocamos nossos limites emocionais e daí aparecem os sintomas físicos. “Todos nós criamos expectativas sobre a vida e toleramos até certo limite algumas frustrações. Quando elas extrapolam este limite, que é pessoal, e nos fazem sofrer, significa que algo está em desequilíbrio e é preciso resolver”, explica Denise.
“O problema é que a maioria das pessoas acha que resolver os ressentimentos é resolver com o outro aquilo que está pendente, o que deve ser feito mesmo, porém, antes disso, é preciso entender o que te de fato te fez mal e porque ganhou tamanha dimensão na sua vida para daí buscar o equilíbrio”, afirma a especialista da Unifesp.
Muita gente costuma guardar a mágoa e os sentimentos ruins por não conseguir extravasar, daí vem à tristeza e a angústia. Isso acontece porque temos temperamentos e limites diferentes fazendo com que alguns levem sem traumas as decepções do dia a dia, enquanto outros guardem e fiquem remoendo as dores.
“É algo muito pessoal a forma que cada um reage às adversidades. Se você é tímido, reage de um jeito; se é inseguro, age de outra maneira. O importante nesta questão é perceber que quem cria a conotação negativa que gera a mágoa e o ressentimento somos nós. A pessoa pode até ter errado com você, mas a intensidade disso na sua vida quem dá é você mesmo”, explica a psicóloga.
Sentimento reprimido = saúde em perigo
Segundo a psicóloga da Unifesp, a dor emocional se torna física quando a intensidade que damos ao fato que nos magoa chega a interferir na atividade cerebral de modo a dificultar o envio de estímulos nervosos responsáveis pela execução de algumas funções de nosso organismo. “O cérebro deixa de comandar alguma função e o corpo reage sinalizando onde está o problema”, explica.
“A gente se adapta as novas situações, isso é um processo natural, porém, quando algo nos machuca a ponto de extrapolar nossos limites, a dor emocional bloqueia alguma função física que já é propensa a ter problemas ou intensifica os sintomas de alguma doença já existente”, explica Denise.
Para ela, os sintomas emocionais podem acometer três áreas interdependentes das nossas vidas de modo a influenciar umas as outras de acordo com a origem do problema emocional. “Quando a pessoa tem uma doença que tem origem emocional, dificilmente consegue desempenhar com total desenvoltura suas atividades sociais e começa a dar sinais físicos. É um conjunto de fatores que se somam e vão se acumulando. Quando o corpo reage com sintomas de alguma doença é porque a pessoa extrapolou seu limite emocional e o organismo responde tentando eliminar a dor”, explica.
-Físicos: úlcera, hipertensão, alergias, asma, estresse, e a longo prazo, câncer.
-Psíquicos: irritabilidade, ansiedade, agressividade, nervosismo.
-Sociais: queda de desempenho no trabalho, tendência ao isolamento, apatia, conflitos domésticos, dentre outros.
É muito comum ouvirmos as pessoas dizendo que se temos um problema com alguém é melhor resolver e conversar para não guardar mágoa porque isso faz mal, porém, esta máxima nem sempre é a melhor opção para quem sofre com problema.
De acordo com Denise Diniz nem sempre as pessoas conseguem lidar com a dor que sentem. “Além disso, conversar com o outro que os magoou significa trair seus valores morais e isso as maltrata mais do que a mágoa ou a dor reprimida”, explica ela. Nestes casos, é melhor trabalhar para que ela supere a dor e siga em frente.
Uma hora você estoura! Pois é, isso não é o problema, o grave é quando você o faz e desconta nos outros as dores que são suas, magoando as pessoas ao seu redor. Para evitar que isso aconteça e te ajudar a extravasar, a psicóloga dá algumas dicas:
1.Aceite que algo lhe incomoda sem medo de expor seus sentimentos, assim você não intensifica a dor remoendo mágoa dos outros.
2. Detecte o que de fato lhe fez mal para não sair atirando para todos os lados.
3. Não crie expectativas em relação ao outro para não se decepcionar depois. “Só você pode curar sua dor, não adianta achar que o outro vai te livrar do sofrimento”, diz Denise.
4.Busque em você e na sua vida todos os recursos que podem te ajudar a superar esta dor: amigos, praticar esportes, terapia, entre outros. “Se pergunte quais destas possibilidades fariam mais efeito na hora de trabalhar a dor que está te maltratando e corra atrás dela. Nem sempre o que lhe indicam é o melhor para você e, às vezes, uma conversa franca é mais útil do que uma consulta”, explica.
5-Trabalhe sua autoestima: “As pessoas te maltratam se você deixa que isso aconteça. É você quem escolhe as relações que quer estabelecer com as pessoas, por isso, em vez de culpar o outro pelo seu sofrimento, olhe para si mesmo e se ajude”, afirma Denise.
6-Perdoe. A psicóloga lembra que perdoar não é esquecer o que te fez mal e sim superar e se libertar daquele sentimento ruim: “só nos curamos quando viramos a página e, para isso, é preciso disposição e paciência. Não dá para achar que superou só porque você quer se sentir assim, tem que ser sincero para ser verdadeiro”.
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