Será que para valorizar é preciso perder? Mas aí, será tarde demais!
Vai doer. Vai doer muito quando o relógio marcar o fim deste ano e você não tiver alguém verdadeiro a quem abraçar.
Sim. Vai doer. Mas aí eu espero que, nesta hora, você reflita em tudo o que fez durante o ano.
Quantas vezes você vacilou com as pessoas certas e valorizou as erradas.
Quantas vezes você passou a perna em quem confiou em você.
Quantas vezes você se aproveitou daqueles que te ofereceram amizade sincera e amor verdadeiro.
Quantas vezes você abusou da boa vontade dos outros, e se fingiu de amigo somente para conseguir alcançar seus objetivos na vida, sempre usando palavras doces, dúbias, sonsas, com o intuito de conseguir favores?
Depois se viu sendo alvo do mesmo joguete que você mesmo criou e aí percebeu que não era assim tão divertido.
Sim. Vai doer. Porque no fundo, a gente sempre sabe o quanto certas pessoas são raras e o quanto elas verdadeiramente estiveram ao seu lado. Mas o problema é que a gente tem essa mania de se julgar eterno, então você vai transitando pela vida sem pudor em relação aos sentimentos do outro.
Sim. Vai doer. Porque você vai se lembrar do abraço sincero da despedida, do beijo caloroso e do olhar de admiração que aquela pessoa lançou a você.
Vai se lembrar das experiências de vida que compartilharam um com o outro, das mensagens trocadas até tarde da noite, das confidências, das inúmeras páginas que um seguia e indicava para o outro pois sabiam exatamente o tipo de humor, gosto e conteúdo agradam mutuamente.
Tudo tão ardilosamente calculado. Todos fantoches da sua peça de teatro.
Vai doer. E sabe em que momento? Quando você estiver cercado de pessoas, mas ao mesmo tempo, se sentir imensamente sozinho. Porque sabe que aquelas pessoas não estão lá por você, mas pelo o que você representa socialmente.
Estará dançando com um copo de champanhe na mão, mãos ao alto simulando um breve êxtase, mas no coração, um borbulhante vazio.
Amizades de ocasião, vazias de emoção. Você sabe que nunca foi por você ser você. São apenas porque estão.
E aí vai doer. Vai doer como nunca! A escolha que você fez de não valorizar quem merecia.
Quando você passar por aquela esquina em que compartilharam um café, um pão na chapa e risadas furtivas e olhar cúmplice numa tarde chuvosa de inverno.
Daqueles encontros que demoram para acontecer, mas quando acontecem, parecem que foram escritos nas estrelas de tão perfeitos.
Sim, porque estes momentos, os mais simples, são exatamente aqueles que mais se tornam memoráveis.
O regresso de uma longa viagem que parecia interessante não terá assim tanta graça, porquê ou razão. Porque aquela pessoa que dividiu um doce momento não mais lá estará.
Talvez leve outro corpo, mas a fôrma, a alma, a risada, o toque, o olhar, o sorriso não será mais o mesmo. Boulevard dos sonhos partidos.
Tanta coisa que a gente faz e depois quer voltar atrás mas, tolamente esquecemos que esse instante e esse momento são irreversíveis.
É como diz o sábio dito popular: “Pra valorizar, é preciso perder.” Mas aí, será tarde demais.
*Foto de Anastase Maragos no Unsplash
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