Por tal motivo, não devemos nos desesperar quando a vida fecha portas. Pular janelas pode ser bem divertido. Por tal motivo, a gente não deve se limitar às possibilidades que nos foram apresentadas na infância e na adolescência. Existem muitas maneiras de viver a vida. Não é porque pegamos caminhos diferentes dos trilhados pelos amigos de infância que somos menos felizes.

Não há nada mais doloroso do que alimentar um sonho e lutar por ele para depois ver todo o nosso projeto de vida desmoronando como um castelinho de cartas. Não há nada mais doloroso do que ver um sonho negado, um sonho abortado. Não há nada mais doloroso do que querer algo febrilmente e ter que aprender a viver sem este algo.

Porém, sempre tem algo ou alguém à nossa espera , na próxima esquina, na próxima estação do metrô, na próxima etapa da nossa vida. Muitas vezes, quando achamos que mais nada emocionante vai acontecer e que precisaremos nos habituar a uma existência mecânica , algo acontece ou alguém surge para dizer que o jogo ainda não acabou. Que ainda existem lições para aprender. Que ainda existem experiências para vivenciar. Que existem emoções que nunca deixamos de sentir.

Como disse um personagem do filme “Quando o coração floresce” , de David Lean, às vezes, a gente quer comer um ravióli e a vida nos manda um filé. Sim, é difícil querer algo e ter que se adaptar a outra coisa. Mas, às vezes, o plano B vira A. Ás vezes , a gente passa a gostar mais do filé do que do ravióli.

Sempre me lembro de uma vez que queria ir ao cinema com uma amiga assistir ao filme Indochina. Por uma questão de horário, acabamos vendo Perfume de mulher. Saímos extasiadas da sala de projeção. Depois , vi Indochina . Apesar de ter achado o filme bonito, gostei muito mais de Perfume de mulher.

Ás vezes , a gente se apaixona por A , mas é B que nos convida para sair. De repente , a gente quer muito uma coisa porque ela é difícil. Ás vezes, a gente até quer mesmo, para valer, mas não é possível. Mas nem por isso estamos impedidos de conquistar outras coisas tão ou mais interessantes.

Por tal motivo, não devemos nos desesperar quando a vida fecha portas. Pular janelas pode ser bem divertido. Por tal motivo, a gente não deve se limitar às possibilidades que nos foram apresentadas na infância e na adolescência. Existem muitas maneiras de viver a vida. Não é porque pegamos caminhos diferentes dos trilhados pelos amigos de infância que somos menos felizes. Que somos menos inteiros ou dignos.

Por tal motivo, não devemos alimentar ideias fixas. Lutar bravamente para realizar sonhos é positivo. O problema é insistir em batalhas perdidas. O problema é não querer entender que a vida segue em frente e que certas pessoas e projetos devem ficar para trás.

Algumas amizades que foram muito boas na meninice perdem o sentido na fase adulta. Alguns projetos de vida que pareciam essenciais aos 20 anos já não são tão maravilhosos aos 30 ou aos 40. Muitas vezes, insistimos em velhos projetos mais por tradição do que por vontade mesmo. Mais para não destoar da maioria do que por desejo de realizá-lo.

Vamos mudando no decorrer da vida e algumas coisas vão ficando sem lugar. Precisamos aprender a abrir mão daquilo que não faz mais sentido para liberar espaço para o novo.








Viciada em café, chocolate, vinho barato, filmes bizarros e pessoas profundas. Escritora compulsiva, atriz por vício, professora com alma de estudante. O mundo é o meu palco e minha sala de aula , meu laboratório maluco. Degusto novos conhecimentos e degluto vinhos que me deixam insuportavelmente lúcida. Apaixonada por artes em geral, filosofia , psicanálise e tudo que faz a pele da alma se rasgar. Doutora em Comunicação e Semiótica e autora de 7 livros. Entre eles estão "Como fazer uma tese?" ( Editora Avercamp) , "O cinema da paixão: Cultura espanhola nas telas" e "Sociologia da Educação" ( Editora LTC) indicado ao prêmio Jabuti 2013. Sou alguém que realmente odeia móveis fixos.