A Síndrome de Hikikomori, conhecida no Brasil como “Ermitões Urbanos”, se caracteriza pelo grave isolamento social voluntário de adolescentes e jovens adultos, por pelo menos seis meses.
Mesmo sendo originalmente descrita no Japão, na década de 1980, e inicialmente caracterizada por um fenômeno psicossocial exclusivo da cultura japonesa; hoje existe um grande número de países, com culturas distintas, que relatam casos de Hikikomori, como Hong Kong, Omã, Coreia do Sul, China, Índia, Espanha, Canadá, Estados Unidos, França, Reino Unido, Itália, Portugal e Brasil – sendo neste, um único caso relatado.
Além disso, pode-se também encontrar pesquisas com psiquiatras em diversos países como Austrália, Bangladesh, Irã, Taiwan e Tailândia, que sugerem casos de Hikikomori em todos os países, especialmente nas áreas urbanas. (Stip, E.; Thibault, A.; Beauchamp-Chatel, A.; e Kisely, S.,2016).
Esta síndrome afeta principalmente pessoas do sexo masculino e estes, usualmente, ficam reclusos em seus quartos na companhia do videogame ou computador, invertendo o dia pela noite.
Embora ainda haja muita controversa sobre sua natureza, geralmente esses indivíduos podem apresentar algum histórico de experiência traumática, bullying, rejeição parental, etc.
De qualquer modo, o fracasso, a sensação de impotência, a frustração, está envolvida nesse isolamento voluntário.
Hikikomori é uma síndrome séria, silenciosa, persistente e que pode crescer ainda mais pelo excesso de uso da internet.
Essa síndrome pode desencadear alguns sintomas graves psíquicos e físicos, portanto, deve atrair a máxima atenção e precaução.
Alan R. Teo (2010) até fez uma brilhante analogia com a Lenda do Xintoísmo, sobre a Deusa do Sol Amaterasu. Na lenda, ela é uma das filhas de Izanagi (Deus da Terra, um dos Deuses responsáveis pela criação do Japão), irmã de Susanoo, o Deus das Tempestades e do Mar, e de Tsukuyomi, o Deus da Lua e regente da noite.
A Deusa Amaterasu herdaria os céus, Tsukuyomi assumiria o controle da noite e Susanoo assumiria o controle da tempestade e dos mares. Em um conflito com seu irmão Susanoo, Amaterasu fugiu para uma caverna e sua ausência causou escuridão em todo o Japão. As safras morreram e as pessoas sofreram; Até que os Deuses decidiram que precisavam retornar Amaterasu à sua posição nos céus.
Eles realizaram várias oferendas, como a dos três tesouros imperiais (um espelho, uma joia e uma espada), vários rituais, tudo na tentativa de atraí-la para fora de sua caverna. E em um desses rituais, houve tanta diversão e música, que Amaterasu não resistiu e foi dar uma espiada.
Quando ela espiou fora de sua longa estadia no escuro, um raio de luz chamado “amanhecer” escapou, e a deusa ficou deslumbrada com o seu próprio reflexo no espelho.
Surpresa, ela se adiantou espreitando para além da rocha, o deus Ameno-Tajikarawo, aproveitando-se de sua distração, puxou-a para fora e a caverna celestial foi selada com um cordão sagrado para evitar que ela pudesse retornar.
Cercada por tamanha alegria, ela concordou em voltar a iluminar o mundo com seus raios resplandecentes.
Essa analogia, apesar de triste, nos faz pensar nesse momento em que vivemos atualmente, nos isolando socialmente de nossos entes queridos, amigos, forçados a lidar com a quebra brusca da rotina, com o aumento da ansiedade e angústia em função de um futuro desconhecido que nos espera;
É normal se imaginar no possível aumento de pessoas acometidas pela perda de identidade, insônia, insegurança, medo, depressão, crises de ansiedade, síndrome do pânico ou agorafobia; que podem acabar desenvolvendo um quadro de isolamento social prolongado – Síndrome de Hikikomori, sem mais querer voltar a interagir com o mundo fora das quadro paredes que a protegem de perigos visíveis e invisíveis, quando esse período acabar.
Cabe a nós, Psicólogos – juntamente com o suporte dos familiares e amigos -, mostrar que o mundo fora das cavernas pode ser grande e assustador, mas também há muita alegrias, amor, diversão e principalmente, luz.
Escrito por Donata Chême Bispo psicóloga.
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