“Dói demais ter medo de ser a gente!”, disse Gil do BBB 21 sobre a sua relação com a sua mãe desde a infância.
A relação que construímos com a nossa mãe é um elo muito poderoso, e independente de como gostaríamos que essa relação fosse, o poder dessa laço sempre nos traz reflexões grandiosas.
No dia da mulher, o Big Brother fez uma surpresa para os participantes e levou uma ação onde, depois de contar uma pequena história sobre cada mãe, eles tinham que adivinhar de quem era, e enviar um presente da patrocinadora do quadro para elas.
Essa simples dinâmica emocionou muito os jogadores do reality e assim que a atividade acabou as conversas entre eles, é claro, giraram entorno das relações que tiveram com as mães desde a infância.
Conversando com Juliette, Gil falou:
“Ver a imagem da mãe desperta uns gatilhos”, e continuou ele, “Eu nunca me mostrei de verdade pra minha mãe, sempre tive muito respeito, por mais que ela soubesse que eu gostava de homens, eu nunca levei ninguém pra casa, ela nunca me viu em festas, e eu costumava manter uma postura séria e responsável, tenho medo que ela esteja decepcionada”, disse ela com a voz amarrada e com o coração apertado.
Mesmo Juliette falando que ele não tinha motivos para ficar preocupado com a trajetória dele dentro do programa, ele continuou ” Dói demais ter medo de ser a gente”.
Essa frase é muito triste, e acredito que milhares de filhos pelo Brasil a fora já se sentiram assim em relação aos pais.
Esse conflito entre querer se mostrar de verdade, e poder ser quem é na frente dos pais é mais comum do que parece.
Muitas pessoas são uma coisa quando estão na frente dos pais e outra, totalmente diferente quando estão na frente deles.
A cobrança, a expectativa, e até as crenças dos pais acabam levando muitos filhos a estabelecer essa dupla personalidade, atitude essa que leva a muito sofrimento. Tudo isso com uma forte justificativa: Não decepcioná-los.
Vendo a aflição do amigo, Juliette diz: “O amor ultrapassa qualquer preconceito, qualquer cultura. O amor é maior que qualquer padrão (…) eles vão te amar do jeito que você é…Confie no amor que sua mãe tem por você eu te conheço há poucos dias e já te amo… imagina ela”.
Juliette, sempre trazendo amor nas palavras, e graças a Deus, existem várias Juliettes por aí, ela é outra personagem que existe aos montes no mundo real e que vem tentando superar várias limitações emocionais por conta da relação que teve com a mãe, uma mulher dura e de poucos carinhos, mas que lhe dava amor de outras maneiras, e passou pra ela muita força e determinação, atitude essa que fez dela essa mulher guerreira que ela é.
Você pode até não gostar de assistir Big Brother, mas vamos combinar agora, aqui entre nós, vamos falar aqui só sobre relações humanas, pode ser?
Aqui não importa o que você pensa sobre a qualidade do programa, apenas quero levantar essa questão da dor que os filhos sentem quando querem ou acham que precisam, agradar os pais para serem aceitos e amados, ou pior, o peso que carregam tentando se tornar uma outra pessoa, ou fingindo ser quem não são, na intenção de protegerem os pais da verdade, ou apenas para que os pais se sintam orgulhosos.
Não podemos subestimar a dor do outro. A dor que você sente, só você sabe como dói, não tem como julgar a dor do outro não gente, você pode até imaginar, mas dizer que sabe o que o outro sente de verdade, é arrogância!
Esse programa de TV muito julgado por ser manipulado e cheio de futilidades, vira ano entra ano, e só cresce em audiência.
Será que as pessoas estão erradas em assistir, ou será que o programa acaba levantando questões sociais e culturais que, sem ele, não seria discutido tão abertamente pela grande massa?
Talvez por isso tantos critiquem. Alguns assuntos tratados ali são tabus para muitas pessoas, e muitos não querem ou não gostam que “algumas coisas”, mesmo que necessárias, sejam faladas em rede nacional.
Analisando o perfil de quem critica, e julga quem assiste, olhando mais de perto, ao estabelecer uma compreensão profunda sobre esse suposto “ódio” ao programa, é possível perceber que, algumas questões tratadas ali dentro, incomoda muito, e eles não sabem lidar e nem querem lidar com as próprias questões existenciais, mas julgam a atitude e a dor do outro com muita facilidade.
O que o senso comum acha é culturalmente muito importante e reflete diretamente na nossa sociedade, e o que atrai tanto o público e torna esse programa tão vendável, são na verdade, as várias vertentes psicológicas que são escancaradas na telinha, traços de personalidades comuns a todos nós que são inerentes ao ser humano.
O jogo que a gente joga diariamente na vida real exige uma teia toda emaranhada de pensamentos, sentimentos, escolhas, julgamentos, fuga, vulnerabilidades e também muita autorresponsabilidade.
As nossas ações e decisões sempre nos farão ganhar ou perder o jogo da vida!
Obvio que as relações e os atritos são maximizados lá dentro da casa do BBB, e as atividades e provas servem para que, nessa interação dos participantes sejam levantadas questões importantes que levam a sociedade a refletir sobre padrões comportamentais, preconceitos, intolerância, e em especial nessa edição, o “cancelamento”.
Tem o intuito de expor exatamente essa teia psicológica, de achismos exagerados e até um certo autoritarismo que os levam a acreditar que as suas crenças e julgamentos sobre o que é certo e errado é só o que interessa, e o ponto de vista dos outros acaba tendo sempre um peso menor. O ego está sempre ali no foco, reinando e pedindo atenção. Isso também acontece aqui fora.
Traçando um paralelo com influência das mães, e pais no comportamento adulto dos filhos, a dinâmica do dia das mulheres mostrou que não são poucos os filhos que sentem que não podem falar o que pensam aos pais, que não podem mostrar o que sentem, ou pior, precisam interpretar um personagem para serem aceitos por eles.
O autoritarismo é o reflexo da necessidade que muitos pais sentem de passar seus valores e crenças para os seus filhos, mas essa imposição acaba os afastando uns dos outros, principalmente na fase da adolescência.
O fato é que, muitos pais sabem que os filhos não são o que eles mostram na sua frente, e mesmo assim, “fingem”, ou preferem não falar abertamente sobre isso com os filhos, pois não conseguiriam lidar com a verdade dessa forma escancarada. Encarar que o filho é totalmente diferente do que você imaginava e queria que ele fosse, é extremamente difícil para muitos pais.
Mães e pais não são seres perfeitos e evoluídos como a maioria dos filhos desejam e cobram que eles sejam, o mesmo acontece com os filhos, que são seres independentes e precisam ser livres para serem o que vieram para ser.
Pais e filhos são seres humanos, e muitas vezes, não percebem a dimensão que suas atitudes podem alcançar. E nesse “reality” é possível ver essas relações de uma forma extremamente desmascarada. E quem se permite, pode sim aprender muitas coisas sobre as relações humanas. Me julguem!
Sei que poucas pessoas entendem esse programa dessa maneira, mas a provocação prende a atenção do público que se identifica, julga, acusa, condena, cancela, torce… E começa a perceber que algumas dinâmicas relacionais que estabelecem lá dentro, também acontecem aqui fora.
Posto isso, começam a se questionar, e nesse ponto acho muito válido.
Sei que vão dizer: “Nossa a Iara assistindo BBB, que decepção”.
Eu não me aborreço com os julgamentos, porque quando a gente se expõe, a gente está sujeito a isso, não é mesmo?
Só julga quem acredita que não tem “teto de vidro”, e só se importa com o julgamento quem não se conhece de verdade.
Mas o objetivo aqui foi levantar apenas a questão da dor de um filho, o que dói em um filho não pode ser negligenciado, dói saber que o Gil nunca conseguiu ser quem ele é de verdade na frente da mãe, apensar de ter por ela todo amor do mundo, e ela também o amar profundamente. Talvez até por ter consciência desse amor gigante, Gil nunca teve coragem de ser quem ele é na frente dela.
Essa é uma triste realidade de milhares de pessoas! Infelizmente.
Mas essa reflexão não tem o objetivo de culpar as mães ou causar uma revolta nos filhos não tá “minha gente”, justamente o contrário, a maioria das mães e pais que se comportam dessa maneira, acham mesmo que estão fazendo o certo, não enxergam o sofrimento dos filhos, porque muitas vezes, os filhos escondem os próprios sentimentos.
Tanto é verdade que a mãe do Gil é amorosa e que tem um coração gigante, que em fevereiro, quando ele estava sofrendo com a presença de Karol Conká, ela postou esse vídeo nas redes sociais muito indignada:
A conclusão que eu tiro disso tudo é que não é justo os filhos acharem que precisam fingir o que não são, com certeza dói demais, mas não é justo também cobrarmos atitudes e comportamentos dos pais que eles ainda não possuem condições, e entendimento para ter, devido a forma como eles foram criados e as crenças que eles carregam desde criança.
E uma coisa é certa, muitas vezes estamos enganados em relação ao que os nossos pais achariam se dissemos a verdade, dói não saber qual será a reação dos nossos pais, esse é o caso do Gil, ele acreditava que a mãe ficaria decepcionada se ele se mostrasse de verdade, e não é o que está acontecendo de fato.
Em resposta as preocupações do filho por conta do beijo que ele deu em Lucas, ela declarou recentemente em seu perfil do Instagram:
“Não precisa pedir desculpas, eu te apoio em tudo. Tu é massa, maravilhoso. Se te faz bem, tem que fazer mesmo. Só fiquei triste pelo Lucas que estava fazendo tão bem a você. E foi tão crucificado, maltratado por aquelas pessoas do mal. Eu como mãe penso como a mãe dele está sofrendo. Por isso eu digo aqui: levanta essa cabeça, você é melhor do que tudo aquilo que fizeram com você”
É só isso por hoje! Muitos sofrimentos podem ser evitados ou amenizados com uma dose de sinceridade, e uma grande dose de amor! Um coisa certa, o que dói em nós, dói também em nossos pais.
Quero saber o que você acha sobre esse assunto tão delicado: Não sobre o BBB, mas sobre a questão levantada no texto…
Se você está passando ou já passou por isso: Força!
*Texto de Iara Fonseca – para o Resiliência Humana.
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