Aqui entre nós, ninguém precisa ganhar na loteria para achar que tem sorte. Não é preciso muito. Basta um ponto lá na frente para onde estender os olhos. É preciso um chão onde pisar firme e seguir adiante. Uma esperança que nos mantenha em movimento e um lugar qualquer de onde sair e para onde voltar.
É preciso uma alegria em que caibamos todos, seguros, intocados, à espera da tristeza seguinte. E é preciso sermos tristes para compreender a lógica fabulosa do riso e da lágrima.
É preciso olhar o céu de tardinha e contar suas cores. Preciso deixar a noite vestir a cidade de sombras, enquanto a cigarra acende as estrelas e a gente procura a lua. É preciso humildade para esperar o sol rasgar o pano de novo e o mundo ser manhãzinha outra vez e para sempre.
É preciso um ofício honesto exercido com empenho, porque todo trabalho bem feito é um jeito bonito de melhorar o mundo.
É preciso um amor de verdade, um só, generoso, imenso e operário, que se espalhe por pessoas amadas e construa amores por aí.
É preciso sorte, porque a sorte é Deus sussurrando para nós: “Vai… vai que Eu estou olhando daqui.”
É preciso tudo isso e por tudo ser grato. É preciso tudo isso para mim e você e todo mundo. É preciso tudo isso e mais nada. É preciso.