Tô desistindo dessa lembrança de que você poderia ter sido, eu poderia ter ficado e as coisas finalmente dariam certo pra gente. Tô desistindo de achar mais possibilidades pra ficar, porque já foram tantas, sabe? Tô desistindo de qualquer ponta de recordação, dos seus pedidos pra ficar mais um pouco, dos compromissos que adiei e das aulas que me atrasei só pra ficar agarrada em você. Tô desistindo quando a minha vontade não era de desistir, mas você não me deu outra escolha. Eu não queria chegar nesse ponto, eu não queria cansar de você, mas você facilitou as coisas. Tô indo embora e dessa vez é pra valer.

Tô indo embora porque você me fez acreditar que não existe mais lugar pra mim em você, não existem mais espaços pra nós dois, não existe mais vontade, ou interesse, ou importância. Tô indo embora porque cansei de ser tratada com irrelevância, de ser deixada falando sozinha todas as vezes que tentei consertar as coisas.

Tô indo embora e é melhor você se poupar em dizer mais uma vez que vai mudar. Para de fingir que na tua vida ainda tem um lugar reservado pra mim, para de tentar me convencer que vai ficar tudo bem porque nunca fica, cara. Tô indo embora agora, porque esperei você agir mas você só conseguia prometer, esperei por muito tempo que você falasse algo pra que eu não desistisse de você, mas você não disse nada e eu tô indo embora.

Tô indo embora e não foi por falta de avisos, eu te avisei que estava cheia disso tudo, eu disse que se continuasse assim eu largaria a corda e deixaria você  cair sozinho, eu iria deixar você só no barco até ele naufragar porque eu já estava cansada de remar sozinha. Não adianta me olhar com essa cara de quem não imaginava, de quem nunca imaginou que um dia eu iria embora. Eu sempre escancarei tudo, deixei as coisas em cima da mesa mas você fingia não ver. Não adianta me chamar pra conversar como se essa minha saída fosse uma surpresa pra você. Cê tá aí sem acreditar que eu tô mesmo indo embora, como você sempre fez. Cê sempre duvidou de mim, duvidou de tudo que eu já fiz, já deixei de fazer, já passei, e do quanto corri por você. Dessa vez eu me decidi, desci do muro e não pulei pro teu lado não.

Não precisa me dizer pra ir embora porque já cuidei de antecipar esse desconforto. Nem precisa me expulsar do teu peito que eu já tratei de te poupar esse esforço também.  Tô indo embora como entrei, sem ter certeza de nada, sem saber direito quem você era. Dessa vez eu bato a porta  e apago a luz e não respondo mais às suas mensagens, dessa vez não tem mais ”vamos conversar” pra tentar resolver as coisas. Dessa vez as coisas ficam mal resolvidas mesmo porque eu  tô sem tempo, tô indo embora e agora é pra falar. Tô me livrando de você, te expulsando de mim, cê entende? Tô indo embora, tô deixando o que é teu no lugar, tô levando comigo só o que é meu e tô deixando tudo o que era nosso naquele potinho de sorvete dentro do congelador. É pequeno e frio eu sei, é muito pouco também, mas só isso foi tudo o que você me deu.








Sou recifense, 24 anos, apaixonado por cafés, seriados e filmes, mas amo cervejas e novelas se houver um bom motivo pra isso. Além de escrever em meu blog pessoal e por aqui, escrevo também no blog da Isabela Freitas, sou colunista do Superela e lancei o meu primeiro livro em Novembro de 2014 pela Editora Penalux. .