Nem sempre o amor dá certo. Quero dizer, ele dá, mas parece que não deu. A primeira sensação é a de que tudo não passou de perda de tempo, momentos vividos em vão ou, sei lá, esses dias alguém reclamou: “me dediquei três anos a esse cara e não ganhei nada em troca”. Bem, nem tudo é como parece e muito da raiva imposta nessas frases é o que faz você pensar que nada valeu a pena.
Mas ó, posso garantir que valeu. Sempre vale alguma coisa, nem que seja para aprendermos o que nunca mais fazer. Aprender com o fim das coisas também é a parte que deu certo, pode ser até a única, mas é uma parte que deu certo. Aliás, nem todo término é o fim ou arriscaria dizer até que: todo fim é um novo começo.
Sempre alguém vai dizer que o amor acabou antes do tempo, enquanto o outro brinda o peso que tirou das costas. O problema todo é o peso que se acumula nas costas. Se a gente não engolisse os não´s que queremos dar e não damos, né? Se os sapos que vão parar no fundo do estômago não comessem as borboletas, né?
Se, se, se…
Vamos empurrando com a barriga os dissabores, as desilusões e os tremores das mãos por conta do medo da solidão. E não percebemos que estar só, mas acompanhado é muito mais doloroso do que a solidão que se vive sozinho. E nos agredimos cruelmente antes do fim, sabe? Aí o que acontece? Quando o fim chega de verdade, em carne e osso, o mundo inteiro desaba na nossa cabeça.
E aparece a gastrite, o aperto no peito, a dor de cabeça.
E vem a raiva daquele que teve a coragem de ir embora e somos tomados por frases que amaldiçoam a pessoa que um dia amamos tanto. Quando chegamos ao limite dentro de uma relação, e isso acontece quase sempre, alguma das partes vai sair machucada. E alguma das partes vai sair amaldiçoada. E alguma mágoa vai criar raiz em um jardim que só deveria ter espaço para flores.
Quando um amor termina, meu amigo, pode ter certeza que é porque deu certo. Foi vivido, foi sentido, foi amado até o primeiro dia em que passou a ser suportado. Amor não dói, parceiro. Está doendo? Machucando feito sapato apertado? Ei, é hora de parar o barco e refletir sobre o rumo dessa navegação.
Pular fora antes que afunde e não sobre nem as boas recordações é quase uma obrigação. Ninguém ama sozinho, quer dizer, até ama, mas não deveria. Quando o grande amor da sua vida vira amor não correspondido, não é mais o grande amor da sua vida. O amor mudou de cor. Assuma isso e dê o destino certo para esse sentimento.
É isso ou decretar a falência da boa memória que um amor bem vivido é capaz de nos deixar. Aquele carinho gostoso no final do dia, aquela mão amiga, aquele beijo inesquecível, o ombro que segurou o pranto na hora do perrengue, a mulher especial que lhe mostrou o caminho mais bonito, o cara bacana que lhe disse tanta coisa nova sobre a vida…
São essas recordações que devem ficar quando um amor que deu certo termina. E para que isso aconteça, basta que sejamos sinceros com o que sentimos a cada momento, sem permitir que o estômago seja um porão onde as coisas velhas, sujas e sem uso são guardadas.
Um dia a gente coloca tudo para fora e faz uma sujeira danada.
Temos que aprender a viver um momento de cada vez, ajustar as peças que não cabem mais e fazer valer o amor que sentimos por quem divide a vida conosco. Mais do que isso, precisamos aceitar quando a viagem termina e conduzir os últimos minutos do percurso com paciência e resiliência.
Lembre que quando as coisas terminam na hora certa, ainda que não saibamos ao certo que hora é essa, o recolocar das coisas no armário fica mais fácil e a casa já não fica mais vazia, pois o seu amor próprio nunca deixou de morar lá.
Todo amor vale a pena, até aquele que já terminou.
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