Todo Comportamento Reflete uma Condição: Saber Distinguir Pode Oferecer Soluções para a Remodelação Pessoal

A relação entre neurociência e comportamento tem sido alvo de estudos aprofundados, revelando como processos neuroquímicos complexos influenciam diretamente a capacidade de aprendizagem e a resposta emocional dos indivíduos.

Segundo o Dr. Fabiano de Abreu Agrela Rodrigues, pós-PhD em Neurociências, licenciado em Biologia e membro da Society for Neuroscience nos Estados Unidos, compreender estas interações pode ser um ponto de viragem na forma como abordamos intervenções comportamentais e estratégias educativas.

“Todo o comportamento é consequência de interações neuroquímicas complexas. A capacidade de interpretar estes processos facilita o desenvolvimento de um prognóstico preciso sobre a condição subjacente.

O neurocientista atua como um intermediário ou precursor, desmembrando e revelando as probabilidades de forma científica e precisa, permitindo que outros profissionais possam realizar intervenções de forma mais objetiva e simplificada”, explica o Dr. Fabiano.

A análise destas interações torna-se ainda mais evidente em exemplos que comparam jovens com desempenhos académicos distintos, apesar de possuírem capacidades cognitivas eficientes. Num caso hipotético citado pelo Dr. Fabiano, um jovem que mantém boas notas e demonstra facilidade nos estudos é comparado a outro que enfrenta procrastinação e fadiga ao se deparar com a necessidade de estudar.

“Embora o segundo jovem não seja menos inteligente que o primeiro – podendo até ter potencial cognitivo superior – diferenças nas condições e no funcionamento cerebral podem explicar os comportamentos distintos”, observa.


Neurotransmissores e Suas Funções

A compreensão dos neurotransmissores é essencial para desvendar estas diferenças. No jovem que se destaca no estudo, a alta produção de glutamato, aliada a uma função eficiente do GABA, sustenta o equilíbrio necessário para uma aprendizagem eficaz.

O glutamato atua como um neurotransmissor excitatório fundamental para o armazenamento de memória, em sinergia com a acetilcolina. Por outro lado, o GABA modula essa excitação, evitando a sobrecarga neuronal, enquanto a noradrenalina reforça a manutenção do foco.

Por outro lado, quando o GABA é ineficiente, como no caso do jovem que adia os estudos e enfrenta desmotivação, pode ocorrer uma desregulação na excitabilidade neuronal.

“A atenção insuficiente prejudica a função da acetilcolina, comprometendo o armazenamento de memória. Além disso, níveis reduzidos de dopamina podem explicar a desmotivação e a falta de incentivo”, detalha o Dr. Fabiano.

Ele acrescenta que tais características são comuns em indivíduos que fazem uso excessivo de redes sociais e dispositivos digitais, bem como em casos de TDAH ou em indivíduos com processamento cerebral acelerado, mas desregulado.

A Importância de Avaliações Precisas

Para o Dr. Fabiano de Abreu, determinar estas diferenças e explorar as suas possibilidades pode otimizar as estratégias de intervenção e potenciar a eficácia das abordagens educativas e terapêuticas. No entanto, ele sublinha a necessidade de uma anamnese abrangente:

“Muitas outras variáveis devem ser consideradas, sendo uma anamnese completa fundamental para um prognóstico mais preciso”, afirma.

Compreender e mapear as nuances do funcionamento cerebral e os seus efeitos no comportamento pode abrir caminho para soluções mais personalizadas e eficazes, ajudando jovens a superar dificuldades como a procrastinação e a falta de motivação.

Em última análise, a ciência neurobiológica oferece um suporte robusto para a educação e a saúde mental, reforçando a importância de estudos contínuos e abordagens interdisciplinares.

*DA REDAÇÃO RH. Foto de JC Gellidon na Unsplash