Não se vive nada novamente, tudo é inédito e não se repete. Quando se trata dos momentos seguintes, somos sempre estreantes. Incrível, mas, nenhum momento vivido pode ser igual a outro. Tudo na vida acontece uma única vez. Nós não teremos a chance de viver de novo o hoje que estamos vivendo – embora tudo pareça igual para nossa mente, tudo é, na verdade, diferente. Nossas mentes acreditam, que tudo o que vivemos é permanente e está em continuidade. Tanto coisas ruins, quanto coisas boas. Elas acreditam e se apegam a isso com muita força e medo, mas, se enganam.
Não estamos conscientes de que cada vivência é única, de que cada encontro é único, de que cada experimentação é única, de que o sabor será outro da próxima vez que experimentarmos a vida, não deixando de ser verdadeiro, não deixando de ser bom. Você nunca mais lerá este texto novamente, não da mesma forma que agora está lendo. Essa leitura será única na sua vida, única.
Deixamos sempre pra depois, achamos que o depois é nossa garantia pra não buscarmos ser felizes agora, mas, ele nunca existiu sem que se tornasse primeiro hoje. A unidade de cada experiência se bem compreendida nos leva a um outro patamar de aceitação. Faz-nos perceber que se nos encontrarmos amanhã, eu e você, não seremos mais os mesmos desde nosso último encontro, o lugar não será exatamente o mesmo, o gosto do café estará diferente, as pessoas serão outras, pois, mesmo o dia, mesmo ele, será outro.
Nós mudamos como muda a natureza, como muda a direção do vento de uma hora pra outra. E por estarmos vivos, por sermos um processo de vida diariamente acontecendo e transmutando em um corpo, é que mudamos como se muda o vento, que às vezes é ventania, que às vezes é acalento. Nós mudamos sem nem percebermos a mudança acontecendo. Um dia, acordamos e estamos de um jeito, no outro, acordamos e estamos de outro. Um certo dia, nossos filhos pequenos cresceram, nossos cabelos castanhos estão brancos, e então estamos mudados. Lembramos tranquilamente de coisas que no passado não saiam de nossas cabeças, nós apenas as esquecemos com o passar do tempo sem nem nos darmos conta. Outras coisas vieram, algumas dessas já até se foram, muitas nos transformaram por dentro e nos deram a chance de aceitar a transitoriedade da vida, outras se tornaram apenas gratas lembranças.
Se pudermos olhar para um momento enquanto o vivemos e perceber o quanto ele é único e passageiro, o quanto ele é valioso e nunca mais acontecerá de novo, não do mesmo jeito, o quão mais calmos e carinhosos seremos com a vida? Qual o cuidado que teremos no trato com os outros, no trato conosco, com nossa família? Se nada nunca é do jeitinho que imaginamos, nem nunca poderá continuar sendo do jeito que é agora, é melhor que o aceitemos como está, e sigamos vivendo com nosso coração curioso e aventureiro. Sem pesos e excessos, sem mágoas e desafetos, pois, nunca conhecemos pela segunda vez o mesmo rosto.
É melhor que nosso abraço então seja como o último abraço, que nosso carinho seja como o último carinho, que nossos olhos se acariciem como se nos olhássemos pela última vez. Porque de certa forma é isso que temos; porque além de não sabermos o que será do momento seguinte, sabemos que ele não será mais o mesmo. Que a transitoriedade da vida é o que faz com que enquanto vivemos nos mantenhamos em movimento, sempre em frente, a procura do amor que ainda temos. Quando paramos de procurar o amor, não é porque o encontramos, é porque desaprendemos como se ama. O amor não é fonte esgotável, sua procura é o que mostra que estamos amando. O bom é quando aprendemos a procurar o amor em nossas próprias atitudes, em nossas próprias ações de compaixão e generosidade, e não na dos outros. O amor então se torna genuíno e pleno.
Cada dia, temos uma nova chance de recebermos a vida nos braços, de vivermos o amor não apenas em nossos planos, mas, em nossos presentes, como um presente que temos somente pra hoje. Como a última chance que temos de amar quem amamos, de dizer isso a eles, porque no próximo momento, sendo melhor ou pior, tudo será diferente.