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Uma crônica sobre Ela e seus monstros interiores

Ela confessou verdades para não se sufocar com sentimentos que mais eram monstros internos! Dia a dia um monstro crescia dentro dela.

Ele era um emaranhado de sentimentos e autocobranças. Um bolo, um combo, um amontoado de nós. Sufocava. Tirava-a do prumo.

E mesmo assim ela o alimentava com seus medos, angústias, julgamentos, vergonhas e pudores. E ele se desenvolvia plena e absurdamente.

Agigantava-se e lhe encolhia. Acabaram se tornando uma coisa só: o monstro e ela.

Conversavam por horas e horas, dias a fio. Conheciam-se como ninguém. Mas não deixavam que mais ninguém os conhecesse. Não daquela forma. Desnudos. Sincronicamente enredados.

No início, ele não tirava a sua paz. Ficava ali, num cantinho qualquer do estômago. Passava quase despercebido. Despertava uma sensação ou outra. Tipo bater de asas de borboletas.

Tinha a sutilidade de uma bailarina rodopiando na ponta dos pés, de um lado a outro do palco. Chegavam a se gostar. Ela era intensidade. E, por ser, não lhe causava estranheza o sentir.

Com o passar do tempo, ela foi se encolhendo. Uma curvatura física e moral. No fundo ela sabia que era por causa dele. Seu malfeitor. O algoz da sua alma.

Ele estava cada vez maior. Já não era tão discreto como outrora.

Competia com o que demais tinha dentro dela. Empurrava. Invadia. Confundia por pura covardia.

Gerava uma guerra interna tão forte de emoções, que ela já não sabia mais o que era paz. Ele a desafiava. Se ela se esforçasse, podia quase escutar uma voz vindo de dentro, sussurrando, chamando-a de covarde.

Ela sabia que precisava vomitá-lo. Ele estava ocupando o espaço de seus poros e acessos.

Faltava-lhe ar. Sobrava-lhe ele. Sentia-se embrulhada, como se estivesse numa constante ressaca que deixava de presente no dia seguinte o amargor e a secura da boca. Resistiu, lutou bravamente, persistiu, até chegar o ponto de se entregar.

Colocou tudo pra fora. Confessou.

Livrou-se do mostro e sentiu-se vazia. Ao invés de leve, sentiu-se oca. Ela o libertou através de suas palavras. E logo após se arrependeu. O mundo era um espaço muito grande pra ele. Teria que procurar outro corpo. Um corpo que não era o dela.

E ela, ao lançá-lo pra fora, passou a ser sozinha.

Confessou verdades para não se sufocar com sentimentos.

Estava certa que nada adiantaria. Não se tem como mudar o imutável. Nem tudo que se sente, acontece, é realizável, tem solução. E tudo bem.

Está realmente tudo bem. A Execução era utópica. A intensidade, não. Simples assim.

Só culpava-se por ter pensado em voz alta. Devia ter se calado, mas não conseguiu evitar. E numa fração de segundos depois, se arrependeu por não ter ficado em silêncio.

Karol Pinto

Jornalista, balzaquiana, apaixonada pela escrita e por histórias. Alguém que acredita que escrever é verbalizar o que alma sente e que toda personagem é digna de ter sua experiência relatada e compartilhada. Uma alma que procura sua eterna construção. Uma mulher em constante formação. Uma sonhadora nata. Uma escritora que busca transcrever o que fica nas entrelinhas e que vibra quando consegue lançar no papel muito mais que ideias, mas sim, essências e verdades. Um DNA composto por papel e tinta.

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