Sim, às vezes dá uma preguiça. Uma preguiça de contra argumentar com quem não nos entende ou finge não nos entender para criar polêmica.

Às vezes, dá uma preguiça de dar explicações para quem já tem opiniões formadas sobre tudo, para quem nos julga sem nos conhecer. Às vezes, dá uma preguiça de tentar estimular quem quer viver na modorra, na mesmice, quem quer saborear o lugar comum. Quem se contenta com a mediocridade.

Às vezes, dá uma preguiça de tentar ensinar quem não quer aprender ou acha que sabe tudo. Às vezes, dá uma preguiça de tentar iluminar o caminho de quem quem gosta de viver no escuro, dá uma preguiça de esperar um gesto de carinho ou agradecimento de quem não consegue expressar o amor ou reconhecer o mérito alheio.

Às vezes, dá uma preguiça de se relacionar com gente que nada ou pouco acrescenta. Com gente indisponível emocionalmente, com gente defendida, que se agarra a uma decepção para justificar o medo de viver a vida com intensidade e coragem.

Às vezes, dá uma preguiça de tentar entender quem não nos entende e aceitar quem não nos aceita. Dá uma preguiça de aceitar regras de um jogo que não foram criadas por nós.

Às vezes, dá uma preguiça de tentar ser ou, ao menos, aparentar o que não somos, para não incomodar.

Sim, a vida pode ser cansativa . Mas é também ao mesmo tempo, criativa. Cabe a nós escolher um caminho e abandonar outro. Cabe a nós deixar para lá o que não acrescenta, o que não vale a pena. Cabe a nós fazer escolhas sensatas, que se conectem a nossa vontade. Cabe a nós deixar para trás pessoas indisponíveis emocionalmente.

Cabe a nós parar de discutir com quem já tem uma opinião formada. Cabe a nós nos afastar de quem nos julga, sem nos conhecer. Cabe a nós afastar-nos de quem se aproxima só para se aproveitar. Cabe a nós receber de braços abertos quem quer nos dar amor e aceitar de bom grado a gentileza alheia.

Cabe a nós superar ou lamentar eternamente. Sim, temos responsabilidade sobre aquilo que fazemos e nos acontece.








Viciada em café, chocolate, vinho barato, filmes bizarros e pessoas profundas. Escritora compulsiva, atriz por vício, professora com alma de estudante. O mundo é o meu palco e minha sala de aula , meu laboratório maluco. Degusto novos conhecimentos e degluto vinhos que me deixam insuportavelmente lúcida. Apaixonada por artes em geral, filosofia , psicanálise e tudo que faz a pele da alma se rasgar. Doutora em Comunicação e Semiótica e autora de 7 livros. Entre eles estão "Como fazer uma tese?" ( Editora Avercamp) , "O cinema da paixão: Cultura espanhola nas telas" e "Sociologia da Educação" ( Editora LTC) indicado ao prêmio Jabuti 2013. Sou alguém que realmente odeia móveis fixos.