Ontem conversei com uma amiga sobre como nos arrependemos das coisas. Do intercâmbio que não fizemos, da maturidade para tomar decisões que não tivemos nas horas mais importantes da vida. Sem perceber, conjugamos os verbos no pretérito perfeito. E a gramática trouxe respostas quando nem houve perguntas.
O peso na culpa deixa os nossos dias mais pesados. Nenhum presente é bom se julgamos a nós mesmos pelas escolhas que não podemos mais mudar. Do corte de cabelo a uma frase errada, do pré-julgamento à falta de exercícios físicos. Não dá pra voltar atrás e ter bebido dois litros de água por dia, sido mais paciente e mantido a calma mesmo no caos. Você errou. E o mundo não parou de girar por isso.
Cada momento feliz de hoje é fruto das escolhas que você fez até um segundo atrás. O sabor do bolo, a cor do sofá, o pedido de perdão. Renegar o passado é rejeitar o caminho que trouxe aqui.
Cada “e se” que usamos diminui a importância do que “já que”. Nossos planos mirabolantes, condição financeira e emprego dos sonhos não existiram, mas continuamos tomando banho de chuva, morrendo de orgulho com uma apresentação de ballet infantil e dividindo uma torta de bolacha – e se eu tivesse aprendido a chamá-la de torta alemã, o sabor seria outro?
Todo mundo comete erros. É normal querer pegar atalhos e acabar dando com a cara na parede. Faz parte da vida dizer coisas sem pensar, tomar decisões equivocadas, magoar quem a gente ama. E não se perdoar por isso é estar lá, persistindo no que deu errado sem ver que os tais caminhos tortos às vezes acabam levando a gente para o lugar certo.
A única coisa que pode tirar a paz de alguém é a falta de perdão com a sua própria história. A amargura de querer viver outra vida torna embaçada a visão sobre a felicidade que se pode sentir hoje.
Esta amiga, com quem eu conversei ontem sobre como nos arrependemos do passado, por exemplo, era alguém que eu não via há dois anos. Até que nós duas decidimos que construir o futuro era mais importante do que se prender a erros que não poderia ser mudados. Enquanto falávamos do passado, o presente de viver um dia de cada vez invadiu o meu peito. Sem mágoas, sem dores, sem remendos. Leve, como a vida tem que ser.