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Você me olhou mas não me viu.

Você me olhou mas não me viu… Quem eu quero enganar? Não esqueci você.

Qualquer pessoa que cruza meu caminho e tenta arrancar de mim um sorriso, no máximo extrai uma sombra do que eu sentia com você.

Dói. Dói baixinho, daquele jeito discreto, não porque é pequeno, mas porque eu já tenho trabalhado há um ano para me conformar que tudo aquilo passou. Que eu nunca mais vou ver aquele sorriso ao vivo, como vislumbro de forma clara em lembranças, nem testemunhar de perto a intensidade dos seus olhos.

Eu sinto uma falta imensa da nossa cumplicidade. Da forma como nossas almas são parecidas. Da profundidade e sintonia das nossas conversas. De terminar sempre com um sorriso bobo a qualquer mensagem sua.

Eu queria tão pouco de você, só sua presença me bastava. Você queria muito mais do mundo, meu amor crescendo era insuficiente, monótono.

Lembro de você se irritar com a falta de criatividade dos nossos passeios. Se enfurecer quando um programa nosso não deu certo. E me lembro de me sentir tão vazia aquele dia… naquele momento, ficou evidente que, pra você, só estar comigo não era suficiente. Eram preciso mil estímulos, novidades e empolgações externas, pois eu e minha presença integral e afeto simplesmente não bastavam.

Mas eu não posso esquecer da promessa que fiz àquela Marian destroçada do primeiro relacionamento, há 7 anos atrás, e que renovo a cada santo dia: eu nunca mais me contentaria com migalhas de ninguém; com alguém que me fizesse sentir insuficiente, ainda que sem a intenção de fazê-lo.

Nunca mais permitiria que alguém me fizesse sentir que eu tenho que enumerar mil razões pra ficar, perfomar um milhão de incentivos para o outro ver valor em mim ou no que temos.

Ainda que me massacre por dentro pensar que poderíamos ter sido tão indubitavelmente incríveis juntos, e duvidar que eu encontre algo como a nossa sintonia outra vez, isso tudo cai por terra completamente quando eu lembro que você não sentiu convicção suficiente pra sequer tentar e ver no que poderia dar.

Você me deixou ir, ainda que com lágrimas nos olhos, você deixou. E eu não quero mais alguém que tenha dúvidas quando eu tenho certezas. Que deixe medos soterrarem futuros enquanto eu afogo traumas para construir algo junto.

Que pense que estar comigo, mesmo que não fazendo nada de incrivelmente excitante, é tedioso, e não sinta esse encantamento que sinto só pela presença do outro.

O amor é tão simples, Pet. Tão singelo. Qualquer roupagem, firula ou grande aventura não é nada frente à conexão que tínhamos. Todo o resto é supérfluo, mesquinharia, mera perfumaria diante do quanto nossas almas eram harmônicas.

E se você não conseguiu enxergar uma preciosidade dessas bem debaixo do seu nariz, focando apenas no baú surrado que a envolvia, você não merecia aquela recompensa no fim do arco íris.

Percebo que ainda me mantenho presa nisso tudo porque me corrói a sensação de que você não conseguiu perceber que algo sem preço (mas de inestimável valor) estava ali, saltando na sua frente, daquelas oportunidades que a gente encontra uma vez na vida, se tiver muita, muita sorte.

A ansiedade pulsa por pensar que você talvez estivesse muito perdido pra enxergar com clareza, mas que sentiu o que senti, e que um dia perceberá a merda que fez. Mas hoje, num momento de sensatez, recordo os últimos momentos. Você não percebeu o óbvio naquele instante, e provavelmente nunca vai perceber.

E se um dia você cair em si e se der conta, eu quero estar longe de estar esperando por você, quero estar firme e convicta de sempre permanecer do meu próprio lado nesse caminho da vida e não aceitar nada menos do que eu mereço. Porque, de todos os defeitos que eu possuo, amar pela metade não é um deles, então não posso tolerar que alguém se doe com ressalvas.

No fundo, eu preciso entender que, não, você também não me enxergou. Parecia que via com clareza, por me compreender daquela forma doida, por termos compartilhando tanto, mas no fim, você não me viu de verdade.

Você não viu o que era mais importante: que você tinha um milhão de razões pra me querer ali contigo e não me deixar ir. Eu havia visto cada um daqueles motivos em nós… mas quando um não quer, dois não amam.

Marian Koshiba

Formada em Direito, escritora por necessidade de alma, cantora e compositora por paixão visceral. Só sabe viver se for refletindo sobre tudo, sentindo o mundo à flor da pele. Quer transmitir tudo que apreende (e aprende) por todas as formas criativas possíveis.

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