Hoje eu quero falar com você. É, você. Você, que às vezes se sente deslocada. Você, que acordou meio amassada. Você, que não está muito satisfeita com o espelho. Tem dias que é assim mesmo.

A roupa não caiu bem, o cabelo não se ajeitou, as cutículas tomaram Biotônico Fontoura e cresceram do dia para a noite.

Tem dias que você disfarça aqui e ali, prova 15 modelitos diferentes, tenta chapinha, tenta babyliss, tenta um coque e nada agrada.

Tem dias que a gente fica azeda e mesmo tentando fingir que está tudo bem nada fica bom.

Dia desses assisti um filme que diz muito sobre a natureza feminina. Se chama “Felicidade por um fio” (tem no Netflix) e conta a história de uma moça que vivia alisando o cabelo.

Nem ela sabia o motivo, mas acordava todo dia antes do namorado, alisava o cabelo, se maquiava e queria estar sempre perfeita e irretocável.

Lá pelas tantas descobriu que na verdade aquele desejo não partiu do coração dela, mas foi imposto pela mãe, que desde pequena queria que ela alisasse o cabelo e dizia que as mulheres só eram belas assim, irretocáveis.

Em outras palavras: a mãe da personagem principal do filme colocou uma ideia na cabeça dela, que trouxe muito sofrimento até ela de fato conseguir se libertar daquele pensamento.

Trazendo para a nossa realidade, quantas coisas a sociedade nos impõe? Quantas vezes nos sentimos diminuídas ou obrigadas a ser de determinada forma? Quantas vezes precisamos vestir aquela capa de Super Mulher e dizer com certo orgulho que “damos conta de tudo”?

Não sei você, mas não gosto nem quero ter que dar conta de tudo. Só quero viver em paz.

Tem dias que me sinto bonita, em outros, me sinto horrorosa. Meu cabelo não fica direito, não consigo cobrir uma olheira, minha unha descasca, minha bunda fica grande demais em uma calça.

Às vezes me sinto apertada dentro de mim. E tá tudo bem, sei que é assim. Mas eu não quero depender dos outros para me sentir bonita. Não quero me sentir bem só porque os outros dizem que estou bem. Entende?

Acho que todo mundo precisa de liberdade.

Antigamente, as mulheres mais rechonchudas faziam sucesso. Depois de um tempo eram as esquálidas. Depois, as gostosonas. Depois, as magras. Mas quem disse que ser magra é elogio? Quem disse que ser gorda é um defeito? Quem disse que mulher tem que ter cabelo comprido? Quem disse que silicone é que é bacana? Quem disse que você não pode ser você mesma? Quem?

Acho que essa é a grande questão da vida: aceitação. É claro que todo mundo quer o melhor pra si, tanto por saúde quanto por questões estéticas, mas se aceitar é fundamental. Ainda que você queira emagrecer 5 quilos, você precisa se abraçar e se aceitar hoje. Só assim a vida flui e as coisas acontecem.








Clarissa Corrêa é escritora e redatora publicitária. Gaúcha de Porto Alegre, tem 6 livros publicados, já foi colunista do caderno Donna (jornal Zero Hora) e da revista Tpm. Também já contribuiu com diversos sites femininos. Clarissa já participou do programa Encontro com Fátima Bernardes e seu livro “Para todos os amores errados” já esteve na lista dos mais vendidos diversas vezes. Observadora, além de escrever sobre as coisas de dentro, também trabalha com desenvolvimento pessoal.